O campo de estudos de Inteligência Artificial (IA) é extremamente amplo e tem evoluído vorazmente ao longo do tempo, desde seu surgimento, em torno da década de 1940, concomitantemente à Segunda Guerra Mundial. Voltada inicialmente para mecanizar processos e tarefas que cabiam então exclusivamente aos raros indivíduos considerados como os mais inteligentes da espécie humana – aqueles que agilmente faziam cálculos balísticos, quebravam códigos complexos e realizavam as complicadas operações de Física e Matemática envolvidas na criação de armas nucleares – a IA começou "secreta e militarizada", mas foi se tornando mais corriqueira e pública nas décadas seguintes ao pós-guerra, conforme os avanços tecnológicos permitiam a proliferação de computadores pelo mundo.
Com o advento dos supercomputadores, da internet, da computação compartilhada e outros avanços, acompanhados da sempre crescente necessidade de obter, armazenar e controlar informações, vimos a área de IA prosperar enormemente, entrando com sutileza no cotidiano das pessoas nas mais diversas formas e funções, desde televisores que se desligam sozinhos, ao final da programação, até sistemas que entendem a fala humana, fazem traduções entre idiomas, dirigem veículos pelas estradas, reconhecem não apenas rostos e indivíduos, mas identificam também comportamentos e "estados de humor" dos humanos com quem interagem, e muito mais. Utilizando sistemas de aprendizagem de máquina desenvolvidos para lidar com quantidades massivas de dados em seu estado bruto – Big Data – sistemas de IA são capazes de identificar padrões, reconhecer tendências e predizer comportamentos com surpreendentes rapidez e precisão. Muitos estudiosos de IA acreditam que as primeiras décadas do terceiro milênio verão o surgimento de uma "singularidade" nessa área, o momento em que um sistema de IA atingirá a chamada "inteligência real" e manifestará "autoconsciência" plena, sem ser programada para "simular" tal característica. Essas são as ambições dos estudiosos da dita IA Forte.
A muito menos ambiciosa investigação aqui apresentada visa estudar o uso de elementos de IA na construção de dispositivos virtuais de simulação de comportamento humano, especificamente na emulação e replicação artificial do modo de agir individual dos jogadores dos títulos da franquia de games de corrida de carros Forza Motorsport, por meio da construção de competidores virtuais chamados de Drivatars, bem como os artifícios e estratégias empregados para envolver emocionalmente os jogadores humanos por meio da utilização dessas simulações digitais nas competições ditas "individuais", ou "contra a máquina".
Autor
Alberto Cabral é Doutorando e Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP. Bacharel em Filosofia (USJT). Técnico especializado e atuante na área de eletrônica com ênfase em Tecnologia da Informação. Professor autônomo na área de filosofia. Fundou, em 2001, o Centro de Estudos Filosóficos Laboratório Evolutivo (CEFLE). Desde a década de 1990, ministra cursos e palestras sobre sua área de pesquisa, cujas linhas principais abrangem interfaces entre filosofia, ciência e epistemologia. Além das interfaces mencionadas, possui como interesse de pesquisa também a integração, filosoficamente justificada, das tecnologias e redes de informação ao processo educacional, tendo publicado diversos artigos sobre tais temáticas.